quarta-feira, 20 de junho de 2012

A Ideologia não está morta!


A ideologia não está morta, a atestá-lo, a recente campanha da elite europeia contra a eventual vitória do partido de extrema-esquerda (!) Syriza. A campanha não foi feita de forma devidamente organizada, em uníssono e directa (como um bom gabinete de propaganda europeia) - não contando, claro, com o lamentável episódio com o  Financial Times alemão (ler aqui), onde, explicitamente, se apelava ao voto na direita parlamentar grega - antes, tal campanha, foi promovida de forma difusa, insuspeita e, aparentemente, totalmente acidental. O que, justamente, revela,  ao invés de ocultar, a existência de certas ideias e perspectivas, no necessário em tudo semelhantes, quanto ao modo de se organizar/ordenar a economia e as sociedades europeias. Assim, o Presidente François Hollande  bem que pode ter revelado a outra face da moeda, dizendo que, para além da contracção (recessão) temos a expansão (investimento). E, decerto, tal volte-face, foi sentido com alívio, tanto para os países periféricos ao momento sob intervenção (descontando os governantes portugueses que, às tantas, já se tinham entusiasmado com o status quo), como para a própria Espanha e Itália, e, inclusive, para o resto dos países do mundo, que receavam, assim, perder um potente mercado de consumo. De toda a maneira,esta viragem de 180º, só possível devido há grandeza e importância (diplomática, económica...) de uma nação como a França, não tivera por efeito a reacção irreflectida e automática que só a vaga possibilidade de um governo de extrema-esquerda (!) na Grécia impulsionara. Poderíamos arguir que, a facilidade com que a elite europeia "assimilou" esta viragem à esquerda (!), que se traduz, muito simplesmente, com a prioridade do conceito crescimento sobre o conceito austeridade na agenda política europeia, deve-se, unicamente, ao porta-voz desta mudança, mais do que ser Hollande, ser a França. De toda a maneira, ainda que reconhecendo a importância do retorno do socialismo à França para esta maior facilidade de "digestão" do repto "não mais austeridade é preciso agora crescer", não creio, de todo, que, se neste país, tal como ocorrera na Grécia, fosse um partido de esquerda radical (tipo Syriza!) a "ameaçar" tomar o poder, as reacções não fossem as mesmas.

A ilusão do fim da história, do fim das ideologias, de que os modelos económicos e sociais "de fundo" já foram esgotados e se acabaram as alternativas, só é possível conservar-se, enquanto os parlamentos forem dominados pelas forças de "direita" e de "esquerda" do eixo central. Já que, como assistimos por motivo das eleições gregas, a partir do momento em que uma força (de esquerda) fora do eixo se "arrisca" a ocupar o lugar de governo logo as diferenças se insurgem, a farsa acaba e os porta-vozes da ideologia reagem em modo Pavlov.

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