terça-feira, 26 de junho de 2012

Movimentos cívicos! E agora?


Os últimos dois anos assinalam, tanto para Portugal, como para a Europa e o resto do mundo, a emergência de novos actores sociais (ou actores sociais agora em actividade), com estes, novos movimentos cívicos (independentes ao poder político, das elites governativas), que tornaram e tornam irreversíveis certos efeitos que abalaram e abalam as "tradicionais" relações de poder (que foram assim postas em causa) e fizeram reconhecer, a essas mesmas elites, o capital de potencialidades que um número, cada vez mais amplo, de "súbditos" possui relativamente ao poder soberano. Assim, independentemente das diferenças entre os movimentos que levaram à deposição dos governos da Tunísia e do Egipto, os movimentos a favor da maior regulação do mercado financeiro norte-americano e os movimentos contra austeridade de Portugal, Espanha, Grécia... Podemos identificar, como característica transversal a estas singularidades, a emergência daquilo que tomamos aqui como "maiorias qualificadas". Maiorias estas que se sentem frustradas, de alguma forma, por se identificarem com essas elites que detêm o poder (no sentido em que contam com tantas faculdades ou competências como estas para tomarem o seu estatuto) e por sentirem que o seu capital acumulado (nomeadamente o capital cultural, o conhecimento) não estar a ser devidamente aproveitado.  

Assim, esta "emulação" das potências do capital cultural na esfera pública (acumuladas por uma geração maioritariamente jovem, informada e informatizada, qualificada, cosmopolita…) não pode ser ignorado, a partir deste momento histórico, nem pelas elites governativas, nem sequer, e principalmente, por eles mesmos, pelos próprios movimentos em questão. Não basta portanto ocupar as praças das capitais e das principais cidades dos países em questão; não basta construir plataformas para a participação cívica; não basta ter iniciativa e um objectivo cívico a cumprir. É necessário, portanto, passar da contingência ditada pela conjuntura (contingência que fez emergir todos estes movimentos, mas que não os garante, sustenta, nem os perpetua), para o arranjo e solidificação de novas estruturas. O mesmo que, não basta "lutar", fazer pressão, contra o poder constituído (numa óptica do conflito; da dualidade do poder, jogada entre governantes e governados) é urgente, forjar as estruturas, com estas, as rotinas, as práticas, o conhecimento, a cultura, de modo a que, este universo amplo (em termos quantitativos) de actores sociais - com vontade de inscrição na esfera pública - possa, de alguma forma, tomar o poder. 

Não sendo isto pensado e feito, primeiro, não há garantias que as elites governantes irão responder aos seus apelos, segundo, também não há garantia quanto à durabilidade destes mesmos movimentos, podendo ser tão efémeros quanto a conjuntura que ditou a sua emergência.

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